Jornalismo
blogueiro sofre ameaças, um prejuízo a todos
Ubirajara da Costa
6º Semestre de Jornalismo
A zona
de tensão entre blogueiros e a mídia empresa, eclodiu de modo mais dramático, em
abril de 2013. A Central Globo de Jornalismo, através de seu diretor, Ali
Kamel, acionou o Blog “Viomundo”. No meu ponto de vista, um princípio ameaçador
à liberdade de expressão.
O
fato
O
blogueiro terá que pagar R$ 30 mil a Kamel por danos morais. O diretor da
emissora alega “perseguição pessoal” do réu, por este ter sido citado em pelo menos 28 artigos
divulgados desde 2008.
Para o
autor do blog a ação judicial diz respeito à tentativa de suprimir o direito a
expressar uma opinião. Entende que suas matérias questionam a condução do
jornalismo na Globo durante os últimos pleitos eleitorais (como a exibição pela
emissora por 18 minutos de uma matéria sobre o julgamento do mensalão, às
vésperas da eleição paulista. Briga semelhante ocorreu entre o jornal “Folha de
São Paulo” e o blog de paródia “Falha de São Paulo”. No dia 20 de fevereiro, a
justiça paulista tomou em segunda instância decisão desfavorável à crítica
humorística.
A
história e a atualidade
Com o advento
dos blogs houve uma migração de leitores e produtores de conteúdos. Estima-se
que existam 35,5 milhões e que 1,2 milhão de notas são publicadas por dia,
média de 50 mil por hora. O número de blogs é 60 vezes maior do que há três
anos, revelam pesquisas recentes. Em tese, neles qualquer individuo pode
expressar a sua opinião ou simplesmente discorrer sobre um assunto ou tema
qualquer.
Para
Rogério Cristofoletti, não é demasiado afirmar que o desenvolvimento
tecnológico no campo da comunicação e a ampliação de possibilidades de
expressão provocaram transformações nas formas de sociabilidade e
comunicabilidade humanas. Essas mudanças parecem se estender ininterruptamente,
na medida em que são apresentadas ao público ferramentas e sistemas que
incentivam a participação no processo comunicativo. Sites de relacionamento,
blogs e microblogs, serviços de compartilhamento de arquivos, dentre outros,
têm permitido não só o acesso massivo às potencialidades da internet, mas, também,
estremecido protocolos tradicionais na comunicação.
Mobilização
No dia
2 de abril, reunidos no Centro de Estudos de Mídia Barão de Itararé, em São
Paulo, blogueiros, ativistas, militantes de partidos políticos, movimentos
sociais e advogados decidiram criar um fundo nacional para batalhas judiciais
que envolvam comunicadores que estejam fora da grande mídia e sejam perseguidos
judicialmente ou tenham a integridade física ameaçada.
Segundo
o proprietário do blog “viomundo”, “aqueles que detêm o monopólio da mídia” tem
se utilizado da “judicialização do debate político” contra os seus críticos,
porque nessas brigas judiciais “quem tem mais recursos ganha, quem tem menos
perde e é obrigado a se calar”.
Vejo
que na atualidade, vivemos tanto da ausência de um marco legal no campo da web,
quanto um dilema, tanto ético quanto corporativo. No campo ético, o público que
acessa os meios de comunicação não está mais a confiar nos jornalistas. Não é
que eles estejam a “mentir” na apuração jornalística. Mas pesquisas apontam que
há dúvidas a respeito da verdade das notícias. No sentido corporativo,
resultado da avalanche informativa, os leitores têm dificuldades em checar os
conteúdos, nos meios virtuais, o mesmo fator torna-os frágeis em razão das suas
origens corporativas, institucionais e, acrescentaria: culturais.
Sobre
esta relatividade informativa, nos é sugerido à leitura critica de tudo o que
recebemos em termos de informação. A leitura crítica está fundamentada na dúvida
gerada pela constatação de que ninguém é dono da verdade. Trata-se de
desconfiar confiando, ou confiar desconfiando, uma atitude nova e perturbadora para
a maioria esmagadora dos leitores, ouvintes, espectadores, navegadores e também
para os jornalistas.
A
leitura crítica é uma idéia antiga e que era discutido até recentemente, apenas
dentro dos ambientes universitários. Praticar a chamada leitura crítica significa
ler, ouvir e ver com uma preocupação analítica, sem aceitar incondicionalmente
o que nos é oferecido pela mídia. Sem rejeitar liminarmente o que é veiculado
mais procurando descobrir todas as caras possíveis de um mesmo problema.
O caso dos blogs descortina
duas situações: a limitada cobertura sobre os fatos jornalísticos dos atuais
veículos de comunicação, bem como, a existência de uma zona de interesses
comercial, pois as receitas das empresas tradicionais de comunicação estão
caindo exponencialmente, fruto da migração publicitária para o meio virtual,
além da mudança de hábitos dos consumidores de notícias.
Um dos
principais problemas do jornalismo contemporâneo, que coloca em risco a própria
essência profissional, é a homogeneização das mensagens e a falta de
pluralismo. O papel de quem critica a mídia, mesmo que permita o acesso livre
aos mecanismos informativos, a pessoas e organizações, não pode prescindir de
uma análise crítica e, sobretudo, ética.
As finalidades
da profissão dizem respeito ao direito de saber,
liberdade de escolha, possibilidade de emissão de juízos de valor autônomos,
liberdade de democracia, isenção e imparcialidade, interesse público e
relevância social. No centro deste debate ético, na contemporaneidade,
conclui-se que o jornalismo tem lugar privilegiado. Independente desta relação
de forças, como a que tem levado ao campo da justiça, empresas de comunicação e
blogueiros, não podemos deixar com que o jornalismo se torne objeto de reverência
e de submissão, dos interesses privados no espaço público.
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