‘Quem quer dinheirooo!’O
assistencialismo midiático nos programas de auditório
A TV brasileira tem mais de 60 anos e é uma concessão
pública. É vista como um canal mágico e, recentemente, vem realizando sonhos,
restabelecendo a “dignidade” junto aos mais desfavorecidos. Em rede aberta, as
emissoras: Band, Globo, Record, Rede TV e SBT, possuem
quadros onde distribuem milhões em dinheiro, uma casa nova, carros e, até um
“tapa” no visual, de lambuja a todos os membros da família.
A
técnica é conhecida no meio teórico acadêmico como o assistencialismo midiático.No
atual cenário, apenas três emissoras, aos finais de semana persistem nesse
formato, nada inovadorna concepção televisiva. A “solidariedade”, como prefere
que seja visto a prática, consolida-se, sobretudo, na audiência e conquista
anunciantes.
Esta
“solidariedade” vai ao ar, todos os finais de semana, com ‘Mandando Bem’, do
Caldeirão do Huck” (TV Globo),‘Sonhar Mais um Sonho’,do “Programa do Gugu”
(Record), com o aos domingos à tarde, por fim, no ‘Construindo um Sonho’, do
“Domingo Legal” com Celso Portiolli, (SBT) aos domingos.
A
fórmula de participação é simples: basta contatar com as emissoras e contar a
sua história “triste”. Sendo selecionado, os próprios apresentadores aparecem
em sua vida, de modo surpreendente e, como “Semideuses” ou “Midas” por um
período determinado, colocam em evidência aquela estória, dando nova
perspectiva de vida.
É fato que o assistencialismo que conhecemos na mídia de
hoje remonta os tempos do Brasil-Colônia. É pouco ou quase nada original, a
sensação que faz com que as pessoas ou os telespectadores beneficiados achem
que um canal, um programa, ou um apresentador sejambons, por isso devem ser
assistidos, pelo simples fato destes ajudarem os mais necessitados.
Na cultura da dependência paternalista brasileira,esse
achado é analisado tendo se em conta os déficits do processo colonial, e a
influência dessa cultura e práticas na construção de uma subjetividade
dependente, a partir de práticas assistencialistas presentes em todas as
dimensões da sociedade.
Essa prática se manifesta, hoje, com outra faceta: um
assistencialismo midiático, continuando a reproduzir relações de dependência.A legitimação
das sociedades se dá principalmente junto aquelas regidas pelo modo de produção
capitalista: o assistencialismo.Essa foi uma das práticas que mais marcou a
formação social brasileira e continuafortemente presente nos dias de hoje, com
nomes e estratégias mais sofisticadas, como‘responsabilidade social’,
‘engajamento do Terceiro Setor’.
No Brasil,
país de modo de produção capitalista e características neoliberais, as relações
se definem a partir da condição de dominação e exploração. Os dominantes detêm
os meios de produção e o capital (elite); os dominados (trabalhadores) possuem
a força de trabalho.Essa elite do país se utiliza de práticas assistencialistas
para manter a dominação através da alienação da classe trabalhadora e,
consequentemente, adquirir legitimidade diante dessa relação de dominantes e
dominados.
Já o merchandising, encontrou na solidez da audiência, que
acende a picos de 12 a 18 pontos; um bom meio de divulgar sua marca, produto ou
serviço. Em boa parte destes casos a emissora, quase nada precisa desembolsar
para custear com a realização deste sonho. É por força até de “permutas”
mascaradas por merchandising social, que os presentes são viabilizados.
A fim de
conquistar tal confiança, existe um mecanismo eficaz e muito utilizado em
certas produções midiáticas denominado sensacionalismo. Em relação ao mesmo, é
pertinente usarmos um bordão bastante conhecido no meio televisivo: “Espreme
que sai sangue.” A prática sensacionalista funciona utilizando-se para isso de
um tom de linguagem espalhafatoso e/ou escandaloso.
A
credibilidade, nesse caso, não é tão importante como a forma que determinada
notícia é narrada.Quando o apresentador Luciano Huck apresenta o quadro
“Mandando Bem”, o aspecto sensacionalista fica evidente, na maneira
“estremada”, emotiva e cheia de suspense com que todo o clima do programa é
preparado, antes do anúncio dos “prêmios”.
O passo
que determina o ingresso em terreno sensacionalista é a alteração da linguagem.
Como também se verificou, a linguagem sensacionalista preconiza um envolvimento
do objeto com o sujeito. O sensacionalismo não admite distanciamento e explora
o conteúdo emocional da notícia. Busca a fusão com conteúdos recalcados,
reivindicando acessos imediatos a esfera emocional.
A
TV Aberta, com este formato já movimentou R$ 1,3 bilhão no primeiro trimestre
de 2013, dados do Ibope Media. Mesmo sendo visto como receio, por focar as
camadas mais populares, hoje tem grande aceitação no mercado. Dentro os
produtos mais vistos, estão às bebidas, com investimento superior a R$ 54
milhões. A preferência destas aparições, são por programas de auditório,
gêneros televisivos que mais receberam investimentos no trimestre, na ordem de
R$ 674 milhões, seguidos dos reality shows e programas de humor e de gêneros
femininos.
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