quinta-feira, 6 de junho de 2013

‘Quem quer dinheirooo!’O assistencialismo midiático nos programas de auditório

          A TV brasileira tem mais de 60 anos e é uma concessão pública. É vista como um canal mágico e, recentemente, vem realizando sonhos, restabelecendo a “dignidade” junto aos mais desfavorecidos. Em rede aberta, as emissoras: Band, Globo, Record, Rede TV e SBT, possuem quadros onde distribuem milhões em dinheiro, uma casa nova, carros e, até um “tapa” no visual, de lambuja a todos os membros da família.
A técnica é conhecida no meio teórico acadêmico como o assistencialismo midiático.No atual cenário, apenas três emissoras, aos finais de semana persistem nesse formato, nada inovadorna concepção televisiva. A “solidariedade”, como prefere que seja visto a prática, consolida-se, sobretudo, na audiência e conquista anunciantes.
Esta “solidariedade” vai ao ar, todos os finais de semana, com ‘Mandando Bem’, do Caldeirão do Huck” (TV Globo),‘Sonhar Mais um Sonho’,do “Programa do Gugu” (Record), com o aos domingos à tarde, por fim, no ‘Construindo um Sonho’, do “Domingo Legal” com Celso Portiolli, (SBT) aos domingos.
A fórmula de participação é simples: basta contatar com as emissoras e contar a sua história “triste”. Sendo selecionado, os próprios apresentadores aparecem em sua vida, de modo surpreendente e, como “Semideuses” ou “Midas” por um período determinado, colocam em evidência aquela estória, dando nova perspectiva de vida.
É fato que o assistencialismo que conhecemos na mídia de hoje remonta os tempos do Brasil-Colônia. É pouco ou quase nada original, a sensação que faz com que as pessoas ou os telespectadores beneficiados achem que um canal, um programa, ou um apresentador sejambons, por isso devem ser assistidos, pelo simples fato destes ajudarem os mais necessitados.
Na cultura da dependência paternalista brasileira,esse achado é analisado tendo se em conta os déficits do processo colonial, e a influência dessa cultura e práticas na construção de uma subjetividade dependente, a partir de práticas assistencialistas presentes em todas as dimensões da sociedade.
Essa prática se manifesta, hoje, com outra faceta: um assistencialismo midiático, continuando a reproduzir relações de dependência.A legitimação das sociedades se dá principalmente junto aquelas regidas pelo modo de produção capitalista: o assistencialismo.Essa foi uma das práticas que mais marcou a formação social brasileira e continuafortemente presente nos dias de hoje, com nomes e estratégias mais sofisticadas, como‘responsabilidade social’, ‘engajamento do Terceiro Setor’.
No Brasil, país de modo de produção capitalista e características neoliberais, as relações se definem a partir da condição de dominação e exploração. Os dominantes detêm os meios de produção e o capital (elite); os dominados (trabalhadores) possuem a força de trabalho.Essa elite do país se utiliza de práticas assistencialistas para manter a dominação através da alienação da classe trabalhadora e, consequentemente, adquirir legitimidade diante dessa relação de dominantes e dominados.
Já o merchandising, encontrou na solidez da audiência, que acende a picos de 12 a 18 pontos; um bom meio de divulgar sua marca, produto ou serviço. Em boa parte destes casos a emissora, quase nada precisa desembolsar para custear com a realização deste sonho. É por força até de “permutas” mascaradas por merchandising social, que os presentes são viabilizados.
A fim de conquistar tal confiança, existe um mecanismo eficaz e muito utilizado em certas produções midiáticas denominado sensacionalismo. Em relação ao mesmo, é pertinente usarmos um bordão bastante conhecido no meio televisivo: “Espreme que sai sangue.” A prática sensacionalista funciona utilizando-se para isso de um tom de linguagem espalhafatoso e/ou escandaloso.
A credibilidade, nesse caso, não é tão importante como a forma que determinada notícia é narrada.Quando o apresentador Luciano Huck apresenta o quadro “Mandando Bem”, o aspecto sensacionalista fica evidente, na maneira “estremada”, emotiva e cheia de suspense com que todo o clima do programa é preparado, antes do anúncio dos “prêmios”.
O passo que determina o ingresso em terreno sensacionalista é a alteração da linguagem. Como também se verificou, a linguagem sensacionalista preconiza um envolvimento do objeto com o sujeito. O sensacionalismo não admite distanciamento e explora o conteúdo emocional da notícia. Busca a fusão com conteúdos recalcados, reivindicando acessos imediatos a esfera emocional.
A TV Aberta, com este formato já movimentou R$ 1,3 bilhão no primeiro trimestre de 2013, dados do Ibope Media. Mesmo sendo visto como receio, por focar as camadas mais populares, hoje tem grande aceitação no mercado. Dentro os produtos mais vistos, estão às bebidas, com investimento superior a R$ 54 milhões. A preferência destas aparições, são por programas de auditório, gêneros televisivos que mais receberam investimentos no trimestre, na ordem de R$ 674 milhões, seguidos dos reality shows e programas de humor e de gêneros femininos.

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